terça-feira, 24 de novembro de 2015

Uma vida construída na superação da hipocrisia

Perfil

Uma cadeira de roda, um ser humano e muitos sonhos. Marcio é daqueles jovens que a sociedade insiste em desistir. Aos 27 anos, carrega no corpo marcas que acumulou durante toda sua vida. Devido uma complicação no parto, a falta de oxigenação no cérebro ocasionou a perda total da coordenação motora, devido a paralisia cerebral. Para muitos, o primeiro passo para o conformismo e comodidade. Para Marcio, o primeiro passo para sua especial vida.

Em uma sociedade preconceituosa, Marcio enfrentou muitas barreiras para chegar até a faculdade. A primeira delas foi na escola. Para ingressar nas escolas regulares, devido à deficiência, os candidatos, na época, deveriam passar por avaliação dividida em três etapas, na Secretaria de Educação. “Eu só fui uma vez e mesmo assim ela achava que eu não ia me adaptar junto às outras crianças”. Sem ao menos conhecer a capacidade do jovem, a entrevistadora julgou-lhe incapaz de cursar o ensino regular.

Após muita luta para a inclusão, Marcio conseguiu frequentar o colégio e foi recebido com muito carinho pelos colegas de classe. Durante todo o período letivo, foi acompanhado por profissionais que assistiam toda sua evolução. Aos poucos foi se enturmado e conhecendo mais pessoas. Mas o preconceito sempre lhe acompanhou de perto e mais uma vez sofreu com isso. “Quando entrei na escola regular, vi o preconceito por parte das mães dos colegas. Elas tinham medo que eu passasse alguma doença para seus filhos, mas eu não ligava!”.

A falta de conhecimento e a ignorância foram fatores fundamentais para problematizar a inclusão. “Hipocrisia”, esta é a palavra que o jovem define o preconceito que viveu e viu durante todo o período. O importante que essas intervenções não influenciaram os sonhos de Marcio. O jovem prosseguiu na trajetória escolar até concluir o ensino médio. Prestou vestibular para Jornalismo e pretende finalizar o curso em 2015.

Amante de literatura, Marcio já escreveu dois livros de poesias: Meus primeiros passos (2011) e Ecos do Tempo (2015).  Encontra inspiração nos sentimentos que se confronta no dia a dia. “Não posso limitar minha inspiração a determinadas coisas. Nem todos os dias eu consigo escrever, mas nos dias que escrevo, é sobre alguma situação que aconteceu, algum sentimento, alguma música que ouvi e as palavras simplesmente vão surgindo”.

É apaixonado por romance policial e filmes de ação. Odeia a utilização do termo “coitado”. Nunca se viu assim. “A minha família nunca me escondeu, pelo contrário, sempre me incentivaram. Eu sempre tive comigo a frase: ‘eu sou capaz’”. É um jovem que adora admirar a lua, o mar e as montanhas.

Marcio é um jovem como qualquer outro e tem vários sonhos. Finalizar a faculdade, escrever mais livros de poemas, escrever romance policial, mas o mais bonito de todos é seu desejo de constituir uma família. E essa vontade de amar não pode ser tirada dele. Mais amor!


Texto: Marcos Dias