sábado, 7 de maio de 2016

O Grão

Crônica, segunda parte.

O inverno já terminou. E o Grão? Achou seu eterno amor? Vamos descobrir ao longo do texto. Começo a crônica com essa porcaria de frase que fiz, “o inverno não é inverno, se fosse inverno estaria nu”. O que significa? Não sei. Poético? Acho que não. “O vazio é sua solidão, que talvez você vá viver ou está vivendo”.
- Mais uma frase louca como essa e vou parar de ler; se continuar escrevendo essas porcarias, vou me separar de você.
- Está bem, meu amor. Eu vivo na solidão mesmo. Eterna solidão.
O Grão por um momento pensou que acharia seu eterno amor, mas não. Foi apenas uma paixão de inverno, que acaba com o aparecimento da primeira folha da primavera. O Grão vai ter que passar todo o verão naquela doce montanha, que chato! “Foi a minha escolha”. O inverno e a primavera já passaram, o verão está insuportável nesse quarto/pote, tomara que passe alguém e derrube esse maldito pote. Alguém quem? Um cachorro, um gato ou uma moça nua, aquela a quem eu abri meu coração e não tive resposta. Sei lá. Já estou cansado de escrever versos, não tenho mais 27 anos, hoje tenho 30, minha memória não é a mesma de 10 anos atrás. Já está na hora de parar com os versos? Acho que não. Lembro-me da primeira poesia que fiz em 2009, bela. Bela é a moça do cabelo longo, como o trecho da musica da banda Pull Down diz, “linda como sempre sonhei”. Tão linda que o poeta pode morrer que vai se lembrar dela no céu. Mas ninguém derrubou o pote ainda, ele não pode ver a cor do sol, como o poeta escreveu nesse trecho da sua mera poesia, “talvez um dia vá ver o sol/Nascer entre as montanhas/Ver de que cor é o céu...”.  Talvez a mesma moça que não gostou das frases volte, e seja o seu eterno amor. O vento pode voltar, assim como a moça pode ficar nua para ele, por que não? Lá fora a chuva cai naquela terra seca, o cheiro do pó invade o pote, fazendo com que o poeta adormeça naquela doce montanha. Já amanheceu, ouço passos na cozinha, a senhora coloca água no bule. A água começa a ferver, ela pega o pote de café que está do meu lado, ouço gritos de socorro. Não posso fazer nada, pois estou preso. Só posso rezar. Então rézo. Está chegando minha vez, fico com medo da colher. Será que chegou minha vez de ver o estômago do homem por dentro? Não quero morrer agora. Agora que achei meu amor, não posso morrer, quero ter filhos com ela. Ufa, tudo não passou de um pesadelo. Ele está com a esperança renovada de um dia poder viver fora do pote e parar de ter medo da colher.


(Marcio S.P Taniguti)